quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O Cruzeiro

Todo mundo diz que fazer um cruzeiro é coisa de velho, mas tenho que confessar que não sou tão velha assim e adorei o nosso cruzeiro!



O que nos motivou a experimentar essa nova aventura foi o custo X benefício! Foi muito barato considerando que tivemos um "hotel" por 14 noites, café, almoço e jantar em restaurantes 5 estrelas, além de piscina, spa, cinema, teatro, shows, boate, academia, e muitas outras atrações! O valor foi pago em Real, dividido em 10 meses, o que foi um grande negócio, pois o Dollar e o Euro estavam muito altos no início de 2016.

O navio da Star Princess tinha 17 andares, e, no início, fiquei com medo de me perder dentro dele. O maior problema era a impossibilidade de atravessar todo o navio em qualquer andar. No meio dele ficavam as cozinhas, e outras áreas apenas utilizadas pela tripulação, e não é raro você ficar preso em um lado do navio sem conseguir passar para o outro.








O navio saiu do Rio no dia 4 de janeiro e chegamos em Valparaiso, no Chile, em 18 de janeiro. O trajeto incluía dois dias em Buenos aires, um dia nas Ilhas Falklands, contornar o Cabo Horn, passar um dia no Ushuaia, um dia em Punta Arenas e desembarcar em Valparaíso. Bom, mas não foi exatamente isso que aconteceu!



O embarque no Rio foi vergonhoso! Com a região do porto toda em obras, tivemos que descer do taxi literalmente no meio da rua e arrastar as malas embaixo de um sol de verão de mais de 40 graus. Quando chegamos a uma coisa que tinha a intensão de ser uma fila, estava a maior confusão, o maior calor e nenhuma sinalização ou orientação. Mais de uma hora depois chegamos dentro de um armazem onde havia um "exército" de tripulantes ajudando a guardar as malas. Ufa! Estamos salvos, pensei!



Esqueça isso, ali pegamos uma senha, que não teve a menor utilidade na 2a etapa do martírio. Outro galpão enorme, lotado, e uma fila na nossa frente. Entramos nela e lá ficamos por mais de duas horas. O caos era total porque havia muitas filas e ninguém para orientar. Passamos pelo controle de passaporte e, finalmente, entramos. É claro que o Tomas já começou a fazer amigos americanos ali mesmo. O cara conversa com todo mundo, conta piadas, fala mal dos políticos e por aí vai.

Quando o navio conseguiu zarpar, já estávamos jantando e era 8 da noite. Com três horas de atraso, o sacode começou!

O navio tinha 2000 passageiros, sendo 200 brasileiros, alguns russos, australianos, ingleses, e muitos americanos. Tinha mais de 1000 tripulantes de todas as partes do mundo.

Os dois primeiros dias foram de navegação, estava sol e muito calor!








Nem preciso falar do por do sol!




Buenos Aires

Paramos dois dias em Buenos Aires e fizemos amizade com um grupo de brasileiros que estava no nosso navio. Os passeios foram muito divertidos!



Veja tudo em: http://oitopesnaestrada.blogspot.com.br/2016/02/buenos-aires.html



Casa Rosada

Obelisco


Teatro Colón 



La Bombonera 

Floralis Generica

Caminito

Puerto Madero

Calle Florida

Buenos Aires é uma cidade simpática!

Foi o meu primeiro cruzeiro e estava com medo de enjoar e querer desistir. Tenho que confessar que assim que entrei no navio, cansada, com calor, sem ter almoçado, bateu o desespero! Achei muito quente, com cheiro esquisito, com corredores muito longos e, mesmo antes de sair do porto, já estava enjoando. Era medo de ficar presa lá por 14 dias, mas é claro que eu tinha um plano de descer em Buenos Aires, se as coisas piorassem!

Como primeira providência recomendo tomar um Dramin B6 e comer. No jantar, já com o barco em movimento, não estava sentindo mais nada. O segredo é não deixar o enjôo começar, procurar lugares abertos, com vento, ficar o mínimo possível na cabine, tentar comprar uma cabine no meio do navio e, de preferência, com uma varanda. Não foi esse o nosso caso, pois acabamos com uma cabine interna, mas que ficava bem no meio do navio.


As cabines são gostosas, tem uma bancada, TV, um closet e um banheiro.

De Buenos Aires seguimos para as Ilhas Falklands. Estava super curiosa para conhecer a ilha, afinal fica no meio do nada e tem um monte de pinguins! Apesar de estarmos no verão, o tempo foi piorando a cada dia, a medida que nos afastávamos do Rio de Janeiro. Quando chegamos perto da ilha, o tempo estava horroroso!



Passear do lado de fora já tinha virado coisa para "macho"! O vento era muito frio e muito forte!

Não podíamos imaginar o que estava por vir. Continuávamos participando das programações do navio e batendo papo com nossos amigos brasileiros e americanos, que fizemos.







Nos arredores das Falklands começou a nevar na piscina do navio! Muita gente foi para lá brincar com a neve! Foi inacreditável a mudança de temperatura!

No meio da madrugada evacuaram parte do navio para que um helicóptero de resgate das Falklands viesse buscar um passageiro que estava em um estado de saúde super grave. Foi uma super operação com o acompanhamento de dois aviões de resgate também.
Deu tudo certo, o helicóptero não caiu e nem pegou fogo e a brigada de incêndio do navio só ficou de prontidão! Ainda bem que eles não são argentinos! Fiquei bem mais tranquila, dentro do possível, depois de ter sido acordada as 4 da manhã com o capitão falando no auto falante de todo o navio, incluindo as cabines!

Falklands

Na manhã seguinte, as ondas chegaram a 6 metros e o capitão cancelou a nossa descida de barco para as Falklands! Um navio grande como o nosso não é capaz de parar em qualquer porto. O desembarque para as Falklands aconteceria de tender, que são barcos utilizados como apoio para embarque ou desembarque de pessoas ou suprimentos em um navio. Em cruzeiros os tenders funcionam dessa maneira no dia a dia, mas são também equipados para funcionarem como botes salva-vidas.






O resultado é que tivemos que ver as Falklands de dentro do navio e não dava para ver muita coisa! Ninguém reclamou porque o tempo estava assustador, mas foi super chato!

O nosso próximo destino era a circum-navegação do Cabo Horn. Como estávamos adiantados tivemos mais tempo para fazer isso. O tempo tinha melhorado um pouco, mas ainda não estava animador!


Sobre o Cabo Horn


Cabo Horn é um dos maiores desafios náuticos. Marinheiros, piratas, caçadores de baleias, missionários ou exploradores sempre sentiram um buraco no estômago ao passar de um oceano a outro. De 1616 até 1914 (quando da abertura do Canal de Panamá), esta era a rota obrigatória entre a Europa e a Costa Oeste dos Estados Unidos. Durante estes três séculos, calcula-se que mais de 800 embarcações perderam-se nas tormentas do Cabo Horn, levando a vida de cerca de 10 mil pessoas.
Quase quatro séculos depois de seu descobrimento, a natureza é a mesma. O clima continua inclemente, assustando qualquer indivíduo que ouse chegar a este fim do mundo. Afinal, o Cabo Horn é o mais austral de todos os cabos que tentam se aproximar da Antártica.


Monumento da Confraria dos Capitães do Cabo Horn 

Se pudessemos ver mais de perto, veríamos assim!


Farol


O farol, a 57 metros acima do mar, serve como referência para os barcos que cruzam o Cabo Horn. É o farol mais austral do mundo. Aqui vive um oficial da marinha com sua família durante um ano.






O passeio pelo Cabo Horn foi muito legal! Vento, frio, neve, ondas e as ilhas do fim do mundo!

Ganhamos até um certificado!



De lá fomos para Ushuaia, onde finalmente iríamos desembarcar.

Os dias foram ficando mais longos e passaram a escurecer às 10 da noite. A temperatura foi caindo e ficou mais frio mesmo nas partes fechadas do navio! As ondas de 4 metros de altura geravam um balancinho bom para dormir!

No navio já tínhamos uma rotina. Na hora do almoço íamos a um dos restaurantes chiques e sempre comíamos muito bem! Esse era um programa diário! Em geral estávamos "happy to share" e sentávamos em uma mesa com outras pessoas. O Tomás só falava mal do Brasil em inglês ou espanhol, mas depois que levou uma bronca, melhorou um pouco e comçou a falar outras coisas.

A tarde tínhamos muitas atividades e íamos escolhendo dependendo do dia. Adorava ir ao cinema que começava às 13:30; aula de zumba,  que cansava muito; jogos de trivia,  que são jogos de perguntas com temas diferentes a cada dia; torneios variados e apresentações de música. Ah! Fazíamos um lanchinho especial de tarde que era comer uma fatia de pizza deliciosa e quentinha!

Para quem gosta e pode comer o que quiser, o cruzeiro é um paraíso!

Lá pelas 17:30 / 18:00 íamos para a academia. Os aparelhos eram ótimos e modernos com uma super vista para o mar. E o melhor, não ventava lá!

Banho, jantar "unhappy to share", porque ninguém aguenta tanto papo de americano, e show no teatro do navio. Os shows eram ótimos e variavam de apresentações de música, dança e outras performances!

Para quem gosta, e tem pique, tinha boate e mil apresentações de piano em diferentes bares! Uma noite teve até carnaval! Nem imagino como foi porque já estávamos dormindo!


Ushuaia

Manhã frustrada! O vendaval não permitiu que aportassemos em Ushuaia! O nosso navio era muito grande e o vento ia jogá-lo para a praia. Navios menores tentaram e quebraram parte do porto. Uma pessoa da tripulação, que estava doente, e dois passageiros, que deviam estar com medinho,  desceram. Nem os suprimentos puderam vir a bordo. O porto fechou!

O dia estava lindo e comecei a achar o nosso capitão meio boiola! Se os passageiros não fossem a maioria americana teríamos tido um motin!











Mais tarde ouvimos que os ventos estavam 105 kms por hora, e que as autoridades portuárias que tinham vindo a bordo, não poderiam voltar ao porto até que o porto abrisse. Além de não poder descer, não podíamos sair dali porque eles estavam nos prendendo! Pelo menos a vista era linda!

Glaciais no Canal de Beagle!

Para compensar a não descida ao Ushuaia, fizemos um cruzeiro cênico pelo Canal de Beagle! Uau! Vimos glaciais lindos!


O Canal de Beagle, ou Estreito de Beagle, recebeu esse nome por conta do navio HMS Beagle, que fez expedições pela área do canal e levou na sua segunda viagem Charles Darwin. O emblemático canal separa Argentina e Chile, as ilhas do Arquipélago da Terra do Fogo, e liga os oceanos Atlântico e Pacífico. 











Punta Arenas

Descemos finalmente! Dia de sol, sem vento pela manhã! O Tomás estava querendo alugar um carro para fazer os passeios,  mas às 9:00 da manhã nem a casa de câmbio estava aberta. Estrada do fim do mundo! O ritmo é outro!

Desembarque de tender. O navio é muito grande para aportar. Até aqui, tudo bem!




Punta Arenas tem pouco mais de 125 mil habitantes e é a capital da Província de Magallanes, no extremo sul do Chile, uma das regiões mais inóspitas e encantadoras do planeta. Aqui, onde as temperaturas são sempre muito baixas – mesmo no verão a média é de 14 graus -, tudo gira em torno da natureza, da paisagem gelada e do mítico Estreito de Magalhães, descoberto em 1520, pelo navegador português Fernão de Magalhães.


A cidade carrega, ainda, o título de ser a que mais monumentos tem: são mais de 50 esculturas, marcos e tantas outras formas que homenageiam pessoas e lembram datas ou fatos importantes da história desse lugar. Um dos monumentos fica no centro da Plaza de Armas Muñoz Gamero e dizem que, para garantir que um dia você volta a Punta Arenas, é preciso beijar ou tocar o pé do índio aónikenk numa espécie de ritual folclórico.






Assim como em Buenos Aires, o cemitério de Punta Arenas é uma das atrações turísticas oficiais da cidade. Inaugurado em 1894, ele tem um belo jardim e mausoléus impecavelmente construídos de forma a recriar o estilo de vida de seus donos.






Acabamos contratando um táxi para fazer os passeios. O Juan, nosso motorista, era super simpático e foi um ótimo guia. Começamos pelo Forte Burles que ficava há 60 kms da cidade, no Estreito de Magalhães.















Almoçamos caranguejos gigantes e fomos na pinguineira que ficava há 40 kms por estrada de terra. Chegando lá precisamos andar mais uns 2 kms a pé  até chegar  à praia dos pinguins.




Nas pinguineras faltava um pouco de pinguins para ficar mais legal, mas pelo menos posso dizer que vi três pinguins!














Depois de um dia maravilhoso tínhamos que pegar o último barco de volta para o navio às 17:30. Quando chegamos ao porto descobrimos que ele estava fechado por causa do vento.

Tinha mais de 1500 passageiros e tripulantes tentando voltar ao navio e nem preciso dizer o caos que foi.




Ficamos em um bar esperando o tempo melhorar e vendo os barcos balançando. Só conseguimos voltar às 23:30 e os últimos às 2 da manhã. Dá para imaginar o humor dos passageiros!!!!







Mas como eles não são bobos nem nada, quando acordamos no dia seguinte já tínhamos uma carta embaixo da porta dando a cada passageiro US 100,00 de crédito no cartão do navio e 50% do valor pago nesse cruzeiro como crédito para um novo cruzeiro até o final de 2017!

De manhã às pessoas só falavam nos novos destinos que iam escolher e tudo foi esquecido. O Tomás ficou super feliz e já estava disposto a ficar em terra por mais alguns dias só para ganhar mais dinheiro!


Na penúltima noite foi o jantar do capitão, mas ele não apareceu! Há rumores de que um russo deu um soco  nele. Não estou acreditando,  mas que foi estranho...

Jantamos com nosso amigos americanos e mais um casal de ingleses, e a noite dançamos na boate do navio.


Na última noite, jantamos com nossos amigos brasileiros e deixamos as malas arrumadas para o desembarque de manhã cedo em Valparaiso.





Eu não sabia que  viajar de navio rendia tantas histórias!

Antes de voltar para casa passeamos em Viňa del Mar, Valparaiso e Casablanca. Para saber mais acesse aqui.